quarta-feira, 15 de junho de 2011

rodo.viária

             Enquanto esperava o ônibus na rodoviária, o ônibus que me levaria ao outro lado do país, cruzando oitenta e oito municípios, enquanto eu esperava esse ônibus via uma moça ler um livro. A moça lia atenta, eu via de longe, a moça ria, a moça chorava, a moça voltava à página anterior para mais uma vez sentir. A moça voltava às páginas passadas querendo entender melhor a narrativa. 

                A moça não viu que eu a observava e curiosa olhou a última página. A moça parou. Olhou para cima, para o teto da rodoviária, para os ônibus que passavam, a moça olhou para as pessoas que caminhavam com suas malas pesadas, mochilas leves, com suas crianças, com seus lanches frios de viagem, a moço olhou atentamente para tudo que lhe alcançava a vista e cabia naquele pedaço de tempo. A moça havia visto o final do livro, curiosa que era. E aquelas pessoas todas que passavam. 

              Meu ônibus, chegou a hora de eu pegar minha mala, meu lanche, meu livro que estava de lado, e passei perto daquela que me tomou os pensamentos e a atenção e vi. Vi o livro dela. Não havia uma palavra sequer. Era um livro de páginas em branco, nada escrito, ao menos nada que eu pudesse enxergar. A moça me olhou nos olhos e sorriu, e me acompanhou com o olhar enquanto eu caminhava até o ônibus. 

           Guardei a mala junto às outras, mostrei minha identidade e passagem ao motorista, subi as escadas, passei por sete fileiras de poltronas, me enganchando nas pessoas, nas mochilas, nas crianças, tropecei, e olhava aqueles que iriam na viagem comigo. Olhei nos olhos de cada um, um bêbado, um velhinho, uma mãe, um jovem indo começar vida nova, tanta gente... 

              E sentei, ainda sem entender, e escrevi. Escrevi porque era preciso.

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