terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Cedo da manhã na cadeira grudada em outras cadeiras, tanta gente esperando pra cuidar dos olhos. Televisão ligada, adultos com folga no trabalho, idosos que aproveitam o passeio, crianças impacientes. Gente cega usa óculos? Os meus arranhados de tanto cair no chão, e sempre os apanho de volta sem me preocupar muito no que findou. Uma passada na camisa, de qualquer material que seja, da laicra ou algodão, e óculos nos olhos. Que cuidados são esses com a visão? Até parece que vou enxergar pra sempre... Naquelas cadeiras gente vidente, gente cegando, gente que não sabe que não vê. E eu esperando minha vez de medir pressão dos olhos, ler as letras, ficar na sala escura e mirar o balão que está flutuando no céu do aparelho medidor. Veio Rosa e me pôs duas gotas em cada olho, mas minhas pupilas já estavam dilatadas, mas precisa mais, precisa que o doutor veja lá no fundo. Mas rosa, eu já vi tão fundo, ontem mesmo vi lá pra dentro das janelas e não sei se quero. Abra bem o olho... E uma, duas, agora o outro, uma, duas. Agora seque com esse papel e feche os olhos. Começo a ver com os ouvidos. O pensamento não pára de criar imagens enquanto os sons me povoam:
- Toc toc toc
- Corre Bob Esponja, corre!
- A senhora não tem hora marcada.
- Quer sentar aqui?
- Que menino lindo, seu filho?
- Crec crec
- Feche a porta por favor.
- Etc de sons.
Será que a cegueira é preta? O que tem do outro lado das vistas?

















Esqueci a porta do quintal aberta, pra sempre. 
E não pára de ventar.
Formigas entram e saem, carregando farelos.
Folhas secas voam por debaixo da mesa...
E o menino que brinca lá fora, entra com o pé sujo de terra.
















Madrugada acordou meus olhos,

Pra lá 
           e
                          Pra cá




























.Paro
      . Se não
               . Piro
                      . Se não
                               . Penso
                                      . Se não
                                              . Passo