quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Escrever tem sido um exercício de sensação. 
E sentir insiste.
.
.  pulso de vida batendo . 
.  do lado  .
.  esquerdo  . 
.  direito  .
.  dentro  .
.  e fora  . 
.  do peito  .
.  aberto  .
.
__________________________________________________________________




..Mas eu não paro de você..

.Mas eu sou de alguém.

..Mas você é de ninguém..

.De ninguém não sou.

..Mas eu sou de você..





___________________________________________________________________




                      "Alguém Que Não Sabe de Si" é o nome completo do moço, registrado em cartório por um cético pai que não acreditava no que a palavra de gente diz.  Se era mesmo Alguém de nome que não diz, isso nunca lhe importou, seu nome diz o jeito não dito que tem. Mas de repente Si olhou no espelho, via a si mesmo mas não via quem. Não via nome que o conceituasse alguém. Não sabia Alguém que gente não se esconde em nome, mas se acontece quando se reconhece vivo. Saber não era o caso do gosto de quem Não Sabe. Mal sabe ele do olho, do ouvido e das mãos que fazem esse corpo-sem. 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ele alcançou a liberdade.
Só ele, corpo e mente.
No quarto, um vazio. Cama, guarda-roupa, coisas simples e poucas.
Nada de enfeites, impessoal, sem cor e sem livros à mostra.
As roupas foram de outros, roupas tidas como usadas por demais, boas de descanso
Para ele, boas como se fossem novas.
Só lavava uma bermuda quando já estava visualmente imunda, manchada de chão de praça, 
Um buraco pode ser costurado.
Não lavava o cabelo, 
Não tinha pente nem escova,
Sabonete barato com cheiro forte.
Ele se limpou, se libertou.
Fazia a barba quando queria, quando não, às vezes irreconhecível ficava.
Olhem que mendigo tão bonito!
Usava cueca quando tinha, se não, usava minha calcinha.
Lia, fumava, lia, escrevia, fumava e fumava,
Cigarro barato, restos de poeira, usa guardanapo de bar ou o que for
Hábitos de quem fuma há muito tempo, dentes amarelos, olhos vermelhos e mãos delicadas,
Pele branca e cueca folgada.
Às vezes ele ficava tão sério e introspectivo, tão em si...
Escrevia alguma coisa num diário, diário que ninguém lia, tenho uma página dele aqui em casa, foi um presente.
Ele confiava em todos e deixava o diário sobre a cama.
Andava a pé para poder comprar cigarros.
Andava a pé para fazer parte dos outros.
Do tempo que estive com ele, conheci essas coisas, feito cama e livro.
Conheci de longe homens da praça, flanelinhas da rua, a dona de um bar – uma que é gorda e usa short curto com camisa de supermercado,
Um no bar disse até que me via passar.
Talvez eles me conhecessem, talvez fizessem parte de mim.
À noite alguém ia lá fumar.
Um doido, outro doido, um que tinha fome, outro que tinha carência. 
Acho que ele não tinha muita paciência, mas achava engraçado, interessante talvez.
Teve doença, teve tristeza, teve vergonha
É frágil. Posso ver que é frágil pelas mãos e lábios finos
De um jeito ou de outro é rei.
As formigas trabalham em proporções atômicas.

Minha amiga me fala na praia, deitada na areia olhando as estrelas. Sua fala tem o tamanho dos astros.

Eu soube de alguém que não sabe de mim, mas que é que nem eu.
Aliás, alguém que não sabe de nada.

Aquele amor está no além, sua compreensão tem proporções lisérgicas.

Além daqui, em algum outro além.

As vezes um pouco de lucidez faz bem pro espírito.
E muita? As vezes não.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

antes  existir    que    passado   ver     viver 
viver     ver    passado    que   existir  antes 
antes  existir    que    passado   ver     viver 
viver     ver    passado    que   existir  antes 
antes  existir    que    passado   ver     viver 
viver     ver    passado    que   existir  antes 
antes  existir    que    passado   ver     viver 
viver     ver    passado    que   existir  antes 
antes  existir    que    passado   ver     viver 
viver     ver    passado    que   existir  antes 





Olho no olho do olho vejo um brilho vejo um círculo vejo você. Vejo você. Oi, você é assim? É assim que você é? Ai que susto, ai que arrepio, ai ai ai, mas você é uma coisa mesmo, se mostrando assim pra mim. Na gelatina branca linhas vermelha, deixa eu ler sua mão meu amor? Não sei se devo, não sei se quero, não sei se o que  existe dentro desse seu olho é aquilo que sai junto com o seu cheiro. De todos os orifícios meu bem, do umbigo ao ouvido, essa coisinha gelatinosa quase aberta porém coberta por uma camada de vidro mole, essa janela que me deixa curioso. Esse enfeite feito de pêlos, essa cortina que ofusca, ofusca porque se não, meu deus, o que eu faço com tanto brilho do olho no olho meu? Uma pedra verde escorrendo água. O que e mais gosto nessa vida toda, desde os orifícios aos dentes cerrados, que não deixam a língua entrar, é cachoeira. Cachoeira é simples, água que escorre de pedra, gotas salgadas que escorrem do olho. Não me venha com esse olhar úmido, eu não vou amolecer, não vou sensibilizar, não vou umedecer, só vou olhar mesmo, olhar. Como é que uma coisa que não é fresta faz a gente olhar dentro? Mas pra olhar dentro não é preciso de um buraco? Isso é coisa de espelho, vários espelhos. Ah não, não quero essa sensação de estar olhando num espelho, feche esse olho, cansei.
Não estranhe se ele colocar a mão na cabeça, não estranhe se ela parece uma boneca do corpo mole, não estranhe se eles dançam, não toque neles, não fale com eles, pode olhar se quiser, pode ser se sentir, digo, já é se sentir.

Todos eles na mesma frequência, os movimentos são parecidos, as mãos na cabeça... o olhos entreabertos e os ombros pra trás, tudo em musica, tudo é musica, a gente é musica, desculpa, aqui é a musica, musica não fica quieta, musica não fica junto, um boneco de engonço. 

Te encontro na musica, no pé batendo no chão, no escorregar do corpo , atravessando o ar. E quando te encontro na musica não tenho nome, não tenho roupa, não tenho vergonha, nem preciso ter você, sou você, a mão na cabeça, os ombros pra trás, lavrando a terra, virando vento, suando e não vendo....

Não era estar nele, era estar em mim, envolvida por ele. O louco talvez nem imaginasse o quão perto eu estava, uma admiração quase que invejosa, de poder se movimentar meu braço pra onde fosse o braço dele, pra onde for o corpo, sem intenção de significar ou merecer ser algo. As pessoas felizes são brilhantes, de pó que cobre segredos de noite no quarto. Você e você mesmo, você em sua companhia, rindo do tropeço dado ou chorando à solidão. Ei louco, onde você dorme? Sei do seu olhar. Eu também. Eu também quero. Eu também quero te conhecer todo, todos os seus sonhos de louco varrido que dança na beira dos palcos. Os loucos de beira de palco, da Praça Tobias Barreto, da Rua da Cultura numa segunda-feira com fedor de esgoto e gente bonita tomando cerveja quente quentinha. São tantos sonhos... quero me encantar, em sonho de tropicália. Qual a mágica do ser-único? Qual a beleza de estar permanecendo? Me largue, me solte, eu volto! Não ache que não, eu volto à vocês nas minhas saudades diárias. Eu vivo e revivo, mais ré do que é. tenho carinhos que precisam ser entregues aos verdadeiros donos. Não tem essa de fingir. O cheiro de flor de laranja está vindo, me envolvendo, tal qual um louco. Me abrindo frestas, desmofando tudo, uma luz só! Quantas conversas por serem sidas, quantas Cidas por conhecer. Quantos cheiros de outras flores, quantas pessoas, quantas ovelhas, quantos passarinhos... quando pego na caneta, é tanta palavra espremida querendo sair... vômito vomitado, descarrego descarregado, massagem no pé.
O homem caranguejo não para de observar, ele só observa. Ele percebe o que quer e o que não quer. O que lhe é útil (tainhas e direção do vento) e percebe também seus amigos e companheiros. Percebe os que bebem cachaça, os que gostam de fumo. Ele não gosta. 

O homem caranguejo é o homem que vive, que busca estar, ele está, sempre está quieto, permanecendo, presente contínuo sempre. 

O homem caranguejo tem olhos que ficam acima de sua cabeça, acima dos seus próprios olhos. Mãos de pinças duras feito um robô. 

E possui predisposição à lama e às raízes. 

O homenzinho caranguejo é simples e quieto, mas nem todo rio é quieto, ele o é até que venha o vento do sul, aí sim, são entrem em canoas nesse rio, é traiçoeiro. 

Sim, o homem é traiçoeiro. Ele se trai, ele se engana, ele não se percebe. 
Fica lá no rio, olhando, e não se percebe, olhos de caranguejo são para o mundo. 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

aceito tudo
e também aceito nada
só não aceito
o desacontecimento.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011





Fome de tudo,
mundano da tampa
ao fundo.



quero
o dorso
o seio
e pescoço
quero o cheiro

cabelos
                  eu quero
quero o papo
                  na porta
a esquina
                  do corpo
a curva
                  que vira
o que virá
                 eu quero