segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Rima para Dora

Dora, Dodora, Dorinha,
Seu andar me põe respeitosa.
Se tal qual você, fosse eu uma gata,
Caçava um rato e colocava em sua porta.


Cadê
 O gérmen do nascimento
 Cadê o fio da meada
 O pontapé primeiro
Cadê o começo?

Estar sempre no meio
Por gosto ou desleixo
Tem sido estado de desespero.

À beira,
À margem,
O quase ter feito.

Onde começa a linha da vida?
Cadê o ponto de partida?

Desfaço rápido a linha que invento
Movimento de aranha-suicida.

É muito vento,
É muito vento...






Quem escreveu não fui eu. 
Sou instrumento vivo, boca de garrafa, válvula de escape. 
Me escapa.

Quem escreveu foi a vida, e tudo que ela implica.

Quem escreveu foi o corpo, foi a cachoeira que a água rolou.
Foi a força quem escreveu, a força do ventre que faz pedra nascer.
Foi a mágica de dar nó em pingo d'água.

Quem escreveu fui eu.
Quem em mim escreveu foi você.
No meu corpo, água de cachoeira rolou.
(Tanto bate até que fura)

Quem escreveu foi seu dedo, com ponta de pena, nas linhas do meu caderno.
Nem percebo e o mal está feito.
Esse é o bem das palavras...
É o dom de deixar "deixe, deixe....".

Quem escreveu? Minhas letras.
Quem? Minhas linhas. Todas minhas.
Posse minha. Tudo meu.

Linhas tortas, são todas turvas - mal as vejo.
Desconexas.
As linhas seriam elas finas, elásticas.
São feitas de poeira. 
Sopro.

A linha sumiu e já passou o tempo das formas. 
Agradeço pelas desformas.
Pelo pó, agradeço.
Pelo tempo que passa, e desconheço o que chamam de horas.

O limite linha virou outro caminho.
E eu mais você, se perdeu.


SP FEELINGS.

No metrô
 cada metro muda
  o mundo que estático estava.

Confusão, tumulto, contato mútuo...

No metrô todo mundo é amigo,
Se toca, se roça
 e se pede desculpa.

No vagão ninguém se conhece, 
e todo mundo se empurra
 se puxa
 se olha
 se vê.
Ou não se vê.

Escadas, curvas, bifurcações, transações...

Corpo sobe, 
                   Corpo desce,
Corpo rola na esteira que ______move.

Aonde eu estou já não estava mais.

Transposição, movimento, no metrô não há nada lento.

A não ser esse silêncio
Que o fone implanta 
Em meus ouvidos, 
 no dele
 no dela
 na velha
 no menino.
No metrô todo mundo escuta sozinho.