quarta-feira, 29 de junho de 2011

hoje é dia de fogos
essa noite é de fogo

morena, fogo-pagô?
pagô não, fogo acendeu.

hoje é dia de brasa
hoje é noite de farta

madeira
seios
bochechas

enrubescer de cor

hoje é noite de santo

olhe pedro, essa é a pedra
olhe pedro, coma do pão

pedra de pedro, pedro de pão
noite de beijo, noite de chão

calor             
                    laranja  
                                      cor. 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Certeza nenhuma, cheio de dúvidas
é um homem, olhe é um vivo!


Torto, careca e peludo,
vejam o homem, vai tão bonito...


Sem dentes, juízo ou dinheiro
é gente que anda e respira sem medo.


Ele é um tonto, ele é um burro
tem sovaqueira e dentes sujos.


Esse é o homem que veio pra salvar o mundo!


Beijo seus olhos,
peço-lhe a bênção.


Me ensine homem, que vida vibra
me ensine a vida dos que não pensam.


Lá vem o moço do serviço público
identificado, com crachá e tudo.


Com pá e vassoura,
o moço quer limpar o mundo.


O moço diz que calçada não é lugar de gente
que gente precisa de porta, sapato e documento.


Gente não pode ter pêlos,
gente não pode ter cheiro.


O homem que é vivo
e dos cigarros fuma as bitucas,
diz que mundo é céu,
diz que mundo é rua.


O serviço público tem mandato,
e se não for por bem, te chamo vagabundo.


E o homenzinho
sem pêlos,
calçadas
sujeiras
ou
cigarros,


É um homem morto,
é um homem mudo.


É um olho de vidro.
faz
            casa
asa
         faz
sonho
            sono
faz
                silêncio
 som 
      faz

                                           é um emaranhado de flor.
                                   é um emaranhado de flor.
                            é um emaranhado de flor.
     é um emaranhado de flor.
é um emaranhado de flor.


quarta-feira, 15 de junho de 2011

rodo.viária

             Enquanto esperava o ônibus na rodoviária, o ônibus que me levaria ao outro lado do país, cruzando oitenta e oito municípios, enquanto eu esperava esse ônibus via uma moça ler um livro. A moça lia atenta, eu via de longe, a moça ria, a moça chorava, a moça voltava à página anterior para mais uma vez sentir. A moça voltava às páginas passadas querendo entender melhor a narrativa. 

                A moça não viu que eu a observava e curiosa olhou a última página. A moça parou. Olhou para cima, para o teto da rodoviária, para os ônibus que passavam, a moça olhou para as pessoas que caminhavam com suas malas pesadas, mochilas leves, com suas crianças, com seus lanches frios de viagem, a moço olhou atentamente para tudo que lhe alcançava a vista e cabia naquele pedaço de tempo. A moça havia visto o final do livro, curiosa que era. E aquelas pessoas todas que passavam. 

              Meu ônibus, chegou a hora de eu pegar minha mala, meu lanche, meu livro que estava de lado, e passei perto daquela que me tomou os pensamentos e a atenção e vi. Vi o livro dela. Não havia uma palavra sequer. Era um livro de páginas em branco, nada escrito, ao menos nada que eu pudesse enxergar. A moça me olhou nos olhos e sorriu, e me acompanhou com o olhar enquanto eu caminhava até o ônibus. 

           Guardei a mala junto às outras, mostrei minha identidade e passagem ao motorista, subi as escadas, passei por sete fileiras de poltronas, me enganchando nas pessoas, nas mochilas, nas crianças, tropecei, e olhava aqueles que iriam na viagem comigo. Olhei nos olhos de cada um, um bêbado, um velhinho, uma mãe, um jovem indo começar vida nova, tanta gente... 

              E sentei, ainda sem entender, e escrevi. Escrevi porque era preciso.




colocou caleidoscópio no Olho,


     e saiu 
                 rodar 
     mundo









já faz um 
tempo


   passarinho

              passou

na janela dela

   passarinha que era

              passou com ele 

e não voltou



domingo, 5 de junho de 2011

e se fosse feito uma palavra que não tivesse significado que não fosse concreta que não fosse visual nem mesmo forma tivesse e se essa palavra não tivesse cor e nem remetesse a aroma qualquer poderia bem existir uma palavra sem forma uma palavra aberta uma palavra que não fosse caixa e se essa palavra fosse essencial aos homens muito mais do que a palavra dada muito mais do que o conceito e se a palavra não dissesse o que a coisa é e se fosse uma palavra que não pudesse ser escrita à mão à teclas ou à voz e se também não fosse uma palavra para cegos para surdos para nenhum sentido ou para nenhum não-sentido e se de fato essa fosse a única palavra viva uma palavra não pertencente a idioma algum e que não serve a um tipo só de ser mas a todos incluindo pedras e papagaios e cogumelos e ventos e a coisa mais sintética desse mundo e se essa palavra cabe a todos simplesmente porque palavra não cabe e se servindo a todos ela não fosse coisa alguma e se e