quarta-feira, 20 de março de 2013

Estômago estava do chão ao teto
até que de peito me pús de pé
sem medo aos dedos ia minh'alma 
esticando os pêlos, dançando o corpo

inteira, estática, com ares de caça
tateei a textura da cidade louca
maria passou na porta e me pediu água
lhe dei cachaça sem dó, quis mesmo lhe ver outra

maria bateu asas, foi se embranhar na rede elétrica
fiquei com cara de quem viu fantasma
"maria não te conheço, você me parece vulto"
de vulto tinha medo, agora lhe dou de beber e com flores lhe cuido

de dois em dois, subi a montanha da rua
ao som do piano da primeira casa
na cem perdi o trem
da última abri a porta
no balcão um papagaio
ao seus pés, o ombro esquerdo de um pirata

sentei no banco e ele me serviu
me contou histórias do mar perdido
disse que no fundo d´água tem uma moça
que lá embaixo é de pele rugosa
mas quando sobe, é um veludo, um aconchego
é bonita de dar medo

a mulher não pára de rondar
as palavras que saem dos dedos
sinto aqui ao redor, 
na volta que o dedo dá
ao frio que levanta o seio

pirata debaixo do papagaio
me despedi e fui embora
o som do piano continuava
e junto a ele o menino cantava:
"isso é percussão ou é harmonia?
piano engana homem, 
faz pirão porque junta muito os grãos"

caminhar lento, caminhar afobado
caminhar intenso, caminhar afogado
caminhar ar, caminhar nado.