quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ela nos contou uma história, lá das florestas do sul do Pará. São uma família de índios, desses que nasceram do ventre da terra. O povo que no meu imaginário ainda não decidi se são origem, como quem deixa umbigo na barriga do planeta, ou se foram escorrendo pelos continentes até chegar aqui, no Brasil. Eles são uma família de índios, não sei que tipo de família, talvez não existam tipos, mas são uma família e moravam numa casa. Entenda, casa. A sobrinha tomava banho de rio, quando viu uma jibóia, ainda pequena. Uns trinta centímetro, ela me mostrou com as mãos. Achou linda a jibóia e tanto quis que levaram a bicha pra viver na casa com eles. A jibóia tinha uma casa e tinha um nome que não me recordo qual. As vezes soltavam a jibóia e ela passeava pela casa, adorava o cheiro dos que eram da família, gostava de tal jeito que vez em quando ia para cama ou para a rede se aninhar nos aromas dos seus donos. A cobra foi crescendo, e os visitantes se assustavam quando viam tamanho animal escorregando pela sala. Disse que ela gostava tanto de criança e que olhava nos olhos. A cobra ficou adulta quase, estava domesticada em casa de índio. Um dia foi que pensaram que aquela cobra estava grande demais, que poderia ser perigoso criar um bicho que se se dana se enrola todo no corpo de um, esmagando todos os ossos, e depois de triturar engole a pessoa inteira. Talvez tenham pensado que não é bom criar bicho de natureza dentro de casa. Eles não poderiam mais soltar a cobra, era domesticada e nunca teve o hábito de caçar ou de comer carne, era uma cobra que se alimentava de vegetais. Não deu outra, decidiram, ela que me contou não quis ver. A cobra mansa veio pra perto de um dos tios, pois era de costume lhe acarinhar, e ele pegou o pau e lhe deu na cabeça por trás. Não sem antes ter conversando com os deuses, e lhes explicado tal situação. Toda a família comeu da jibóia, disse ela que tem gosto de peixe em posta. Se usaram a pele dela? Disse que o tio pegou um pedacinho pra fazer o detalhe de uma cesta, mas que não rendeu pra artesanato não. Eles guardaram a pele pra lembrar.

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