segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Quem escreveu não fui eu. 
Sou instrumento vivo, boca de garrafa, válvula de escape. 
Me escapa.

Quem escreveu foi a vida, e tudo que ela implica.

Quem escreveu foi o corpo, foi a cachoeira que a água rolou.
Foi a força quem escreveu, a força do ventre que faz pedra nascer.
Foi a mágica de dar nó em pingo d'água.

Quem escreveu fui eu.
Quem em mim escreveu foi você.
No meu corpo, água de cachoeira rolou.
(Tanto bate até que fura)

Quem escreveu foi seu dedo, com ponta de pena, nas linhas do meu caderno.
Nem percebo e o mal está feito.
Esse é o bem das palavras...
É o dom de deixar "deixe, deixe....".

Quem escreveu? Minhas letras.
Quem? Minhas linhas. Todas minhas.
Posse minha. Tudo meu.

Linhas tortas, são todas turvas - mal as vejo.
Desconexas.
As linhas seriam elas finas, elásticas.
São feitas de poeira. 
Sopro.

A linha sumiu e já passou o tempo das formas. 
Agradeço pelas desformas.
Pelo pó, agradeço.
Pelo tempo que passa, e desconheço o que chamam de horas.

O limite linha virou outro caminho.
E eu mais você, se perdeu.


Nenhum comentário:

Postar um comentário