quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

1.
Permanência fez casa nele, trouxe cama, roupa e cachorro. Permanência entrou no seu corpo, deu sopro de tempo longo e o fez dormir. Permanência trancou a porta e o deixou tranquilo. Ele já não sabia bem o que queria, estava abrandado, um tipo anestesiado. Daquele jeito, o espírito não inquieta, assim é bom. Passaram-se um, dois, três dias (ou foram anos?)...
2.
Veio vento de desfazer feitiço e desfez aquele nó que coloca o corpo pra permanecer. O corpo novo, agitado, enlouquecido de vento, levantou-se de seu colchão mais confortável. O corpo estava mole, torto, uma ressaca de eternidades celeste. Imagine só, mas que corpo desacostumado! Ou não, imagine só mas que corpo acostumado! Ossos gelatinados, hálito de lavanda, cabelos úmidos, passos cambaleantes. Cada passo de corpo frágil, bocejos descontrolados. Eis que o corpo se espreguiça.
3.
Permanência pediu que ele voltasse, disse que o mundo não tem casa nem cachorro. Disse que existem ventos de cor que o cegariam, que as pessoas o trairiam, que é um mundo de incertezas.
4.
Lá vai o homem torto, feito uma girafa que acaba de nascer, e ainda não segura seu longo pescoço que tudo vê.
Lá vai o cachorro no mundo novo, lá vai o farejador de rabo abanando e orelhas atentas...

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